segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Paranormalidade ou Manifestações Psicóticas ?

Durante o mapeamento utilizamos um procedimento pelo qual o paciente é submetido a estimulação visual (estimulação fótica intermitente), por intermédio de um sincronizador de ondas cerebrais, o POLYSINC PRO+, projetado e fabricado por Microfirm Inc., Cerritos, CA. Utilizamos, como procedimento de rotina, quatro tipos de estímulo: beta (freqüência de 15 hertz), alfa (9 hertz), teta (6 hertz) e delta (2 hertz). Durante as estimulações beta e alfa, o paciente estava muito inquieto, murmurando que o "lobo" estava ganhando controle sobre sua mente. Durante a estimulação teta, começou a acalmar-se, mas sentia ainda a presença do intruso. Após dois minutos de exposição à estimulação delta, no entanto, GUV tornou-se progressivamente relaxado, declarando que a figura do "lobo" estava se afastando e que ele assumia agora o controle de sua própria mente.




Assim sendo, decidimos realizar seis sessões de estimulação delta (usando uma freqüência de 2 hertz), com a duração de 45 minutos cada, duas vezes por semana. Durante este estágio experimental sua evolução psicológica era monitorizada através de detalhado interrogatório, no início e no fim de cada sessão. Ele também continuou a fazer uso da medicação que lhe tinha sido prescrita: carbamazepina e clonazepam. Queremos acrescentar que, até a presente data não temos qualquer informação que indique ter a estimulação fótica sido usada como procedimento terapêutico em pacientes com manifestações delirantes/alucinatórias.



Os resultados foram notáveis. De acordo com suas próprias afirmações, GUV tornou-se mais e mais forte mentalmente, de maneira que, gradualmente, o lobo começou a se afastar. Ao término do tratamento esta entidade não mais representava uma ameaça, pois GUV era agora capaz de conservá-la à distância sempre que esta tentava aproximar-se dele.



Ao término da segunda semana, quando o lobo já estava derrotado, retornaram as espirais, mas por apenas dois ou três dias. Seus pais informaram que GUV estava agora muito mais quieto e muito menos irritável e somente duas vezes, durante este período, ele exibiu sinais de crises iminentes, que, entretanto, foram conservadas sob controle, feito que GUV nunca tinha sido capaz de realizar no passado.



Quando o nosso paciente retornou para seu segundo mapeamento cerebral, em 25 de abril de 1998, retinha, como única manifestação delirante, o preto velho - seu guia pessoal - que GUV voluntariamente "incorporava" sempre que sentia a necessidade de uma proteção extra. Duas semanas mais tarde, também esta entidade tinha ido embora. O medo de ser atacado por entidades malignas desaparecera completamente e GUV sentia-se confiante o bastante para tentar, no próximo mês de julho iniciar um curso de biologia genética. Seu segundo mapeamento cerebral mostrou, durante o estado de repouso, com os olhos fechados, uma alteração apreciável. Embora as ondas teta ainda estivessem difusamente presentes, o padrão predominante tornara-se definitivamente delta (figura 2 e tabelas 3 e 4).



Segundo Chatrian e colaboradores (1), quando o cérebro é submetido à estimulação por uma certa onda, ele tende a adotar aquela onda como seu padrão dominante, durante o tempo da estimulação. Este tipo bem conhecido de resposta à estimulação fótica intermitente é chamado de pulsão fótica (photic driving). No caso de GUV, no entanto, a presença de um padrão delta de atividade estava presente dias depois da interrupção do estímulo fótico.
Nós realmente não temos um diagnóstico definitivo para GUV. Ele, certamente exibe traços psicóticos definidos (3). Não possuímos, entretanto, dados que nos permitam classificá-lo como esquizofrênico. Por outro lado, não temos nenhuma evidência concreta para afirmar que ele é um paranormal, como gosta de se chamar. Na realidade, nossa precária experiência nessa área não nos permite formular qualquer conclusão definitiva.




Nossa "sensação" é que lidamos com um caso de manifestações psicóticas e alucinatórias, devidas a graves traumas psicológicos, afetando profundamente um cérebro imaturo, altamente sugestionável. Há mais de um mês não ocorrem quaisquer episódios delirantes e GUV está agora levando uma vida praticamente normal.



Embora temamos que, em um momento qualquer do futuro, possa haver recorrência, esperamos que isso não aconteça. Como médicos, sentimo-nos muito gratificados por sua melhora. Mas, como neurocientistas, sentimo-nos frustrados pois, na realidade, não sabemos exatamente por quê e como começaram e desapareceram os delírios de GUV. Podemos apenas conjeturar, mas, para a ciência, conjeturar não é o bastante.



Bibliografia:



Chatrian, GE et all. 1974. A glossary of terms most commonly used by clinical electroencephalographers. Electroencephalogr.Clin. Neurophysiol. 37 : 538-548



Maurer, H and Dierks, T. 1991. Atlas Of Brain Mapping. Springer Verlag. Berlin.



Tomb, DA. 1995, Psychiatry. Williams and Wilkins. Baltimore.

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